sexta-feira, 26 de novembro de 2010

" Um dia da caça e outro do caçador"- Natalícia Alfradique


 Ontem fui à rua comprar enfeites de natal! Quando me deparei de repente com vários cachorros de rua, maltratados, famintos e sem condições mínimas de sobrevivência. Eu fico incomodada e estarrecida como nós não fazemos nada em prol de melhorias em nossa cidade. Como é difícil encontrarmos parceiros na hora de ajudar o próximo! E tem mais... Alguns ainda judiam dos pobres animais porque disputam com os pedestres um espaço na calçada.


E no mês de dezembro, o mês que todos elegem para sermos mais solidários, isso para nos confortarmos de nosso egoísmo, ainda passamos por estes e nada fazemos. Tive vontade de trazê-los para casa! Mas como tenho um cachorro e mais dois gatos, que acredito que ainda faço pouco por eles, o que fazer com mais meia dúzia, isso em poucas horas de idas e vindas num percurso de 500m?

Fico pensando como a nossa cidade é descuidada, não se vê responsável pela saúde no sentido amplo da palavra. Afinal, esses animais merecem um destino melhor, fora o fato que todos transmitem doenças, por total abandono e falta de cuidado.

Sinto por eles e gostaria de ter soluções práticas para os mesmos. Não sei se existe lei que possa ser acionada em prol dos mesmos, pois eles merecem serem cuidados.

Eu não suporto crueldade! Fico indignada e me revolto quando vejo um ato de vandalismo com os animais. Já cuidei de alguns aqui em frente de minha casa, com a ajuda de alguns vizinhos, mas eles continuavam na rua. Isso era sempre um desafio, pois cuidávamos e no dia seguinte eles estavam machucados devido às agressões que sofriam. Tentei acolher alguns, mas devido o hábito de viverem na rua, eles pulam, arranjam sempre um jeitinho de escapulir.

Se todo ser humano se preocupasse um pouco mais com os animais, não veríamos tantas atrocidades!

Já trabalhei em escolas onde fatos desagradáveis já aconteceram como por exemplo, mães acharem normal o seu filho de 6 anos puxar o rabo do gato,mordê-lo, trancá-lo em gaiolas, apertá-lo como se fosse um boneco, alegando que isso é carinho. Eu pergunto: Alguém gostaria de passar pelo mesmo? Aí, vem logo a resposta... Mas estamos falando de um animal. E eu continuo, mas nós somos animais!? E daí pra frente vocês imaginam a batalha que é para convencer a essas mães, que não faz diferença em ser um agressor de animais ou de gente. Tudo nos leva a cometermos erros, grandes erros!

Uma criança dita saudável não desenvolve esse tipo de perfil... Temos que ficar em alerta quando uma criança não faz a diferença entre ser agredido e em ser o agressor. Quando ele desrespeita a tudo e a todos! Quando em momento algum se coloca no lugar do outro, afinal ora podemos ser vilões e ou vítimas! Mas, quem dirá para essa criança o limite de suas ações? Acredito que num primeiro momento a família. Se a família encoraja uma criança a “machucar” o outro em nome de uma defesa pessoal, fiquemos em alerta. Cuidado! Porque muitos equívocos são cometidos em nome da defesa pessoal, que de pessoal não tem nada, a não ser o incômodo que essas pessoas e ou animais nos acarretam.
Lembram-se da história do índio queimado? Não está muito longe desses conceitos equivocados que temos sobre a falta de limites, da falta de correção de ações erradas que cometemos na primeira infância, e acreditávamos que era uma atitude boba, sem maiores conseqüências. Aí, na fase da adolescência ou adulta os erros se apresentam de forma muito mais contudente. E ninguém não pode dizer que não havia visto isto antes.

Uma vez travei uma discussão com um aluno, porque ele agrediu, machucou um sapo, sem menor sentido. Só pela demonstração de força e de poder sobre o outro. Ele falou exatamente isso: É só um sapo! Porque te incomodas tanto? Juro que tive que me segurar, porque eu já estava perdendo a razão. Não me importa se é um sapo ou um elefante... Isso não faz a menor diferença!

Nesses dias ouvi uma história que também me fez refletir. É a seguinte. Um amigo a passeio ao Mato Grosso foi visitar um fazendeiro. Logo que chegou foi recepcionado com um belo churrasco. No dia seguinte, foi o dia da caçada, onde todos os fazendeiros se reúnem para caçar onça, pois a mesma é um problema para os fazendeiros, afinal cada onça mata inúmeros gados. E o fazendeiro não pode aceitar isso como normal e nem arranjar outra solução que não seja o prazer de sair para caçar. Entender que aqui temos um problema, eu entendo, mas será se as onças são tantas que não podem ter outro destino?

E tem mais... Não bastando à demonstração de força, de poder, saem para caçar jacaré. E isso é uma grande infração, afinal os mesmos estão em área de preservação, de tanto que já mataram estão se tornando extintos. E eles saboreiam só o rabo do jacaré, pois o restante é aproveitado, menos para consumo humano. E tudo é vendido!

E eu me pergunto ainda: Quem é o animal e o humano? Quem é desleal, arbitrário e desumano nisso tudo?

Só o arsenal de armas que esses fazendeiros possuem, dá para armar todos os policiais do Rio de Janeiro. E quantas crianças são criadas vendo isso tudo e achando que é normal? Imaginem eles vendo o filme “Dança com  Lobos”, devem rir...

Acredito que um dia essa história mudará. Sei que a esperança em dias melhores virão. Por isso, escrevo por desabafo, por indignação, para que todos possam ajudar a melhorar o nosso planeta, com mais amor e responsabilidade.