quinta-feira, 12 de agosto de 2010

" A Internet educa?"- André Machado

Fui até o blog da Denise Vilardo. Ela nos convida a fazermos essa reflexão. Acredito que a mesma seja pertinente, por isso, colaboro com a sua intenção.
Denise, obrigada pela oportunidade.

http://www.olpc.org.br/component/content/article/38-eventos/65-3-encontro-educacao-olpc.html

Natalícia


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RIO - Faz pouco tempo, foi lançado nos Estados Unidos um livro chamado "The dumbest generation" ("A geração mais burra"), do professor universitário de inglês Mark Bauerlein. Baseado em várias pesquisas - de órgãos do governo, consultorias e instituições educacionais -, o livro chega a uma conclusão terrível sobre a juventude americana: ela não lê, não acredita no trabalho, não visita museus e outras instituições culturais e se quer consegue explicar métodos científicos básicos ou saber algo de História. "Mas são campeões em entreter-se uns aos outros", diz um texto no site do autor. "Passam uma inacreditável quantidade de tempo trocando eletronicamente historinhas, fotos, deliciando-se com a atenção de seus pares..."

No começo deste ano, uma pesquisa na Inglaterra mostrou que quase 90% dos estudantes começam uma pesquisa por uma ferramenta de busca em vez de ir a um site de biblioteca. E, quando pesquisam livros e jornais eletrônicos, eles não ficam nos sites mais do que oito minutos.

Professores brasileiros também se preocupam

Professores e pedagogos brasileiros também se preocupam com essas constatações, percebendo que a internet, se por um lado é uma fonte valiosa de informação, por outro apresenta uma desorganização intrínseca que acaba levando à dispersão e deixando de fomentar o espírito crítico. Isso começa na escola e atinge até a universidade, onde a indústria dos trabalhos prontos se transferiu para a rede, como se viu em artigo publicado pela "Digital" na semana passada. Mas vai além do meio acadêmico. Já começa a afetar a busca por jovem profissionais que chegam ao mercado, como atesta a psicopedagoga Heloísa Yoshida, diretora da Sistêmica Desenvolvimento de Pessoas, no Rio.

" Como um jovem que se formou como "pensante" na base do copy/paste no computador pode apresentar essa postura (criativa e com iniciativa? "



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- Eu oriento carreiras de executivos e jovens vestibulandos e universitários - conta Heloísa. - E há reflexos dessa geração conectada, chamada geração Y (que nasceu a partir de 1980), dentro do mercado. Quando entrevisto candidatos a emprego para empresas, vejo muitos problemas. Por exemplo, as empresas buscam pessoas criativas e com iniciativa. E como um jovem que se formou como "pensante" na base do copy/paste no computador pode apresentar essa postura?


Heloísa explica que, ao contrário da geração anterior, a atual não aprendeu a construir e estruturar o conhecimento, daí a carência de pensamento original na nascente vida profissional.


- A característica da geração atual é o conhecimento descartável - sentencia. - O livro do Bauerlein é sobre o jovem americano, mas é para a juventude americana que o mundo olha, até em função do cinema. Portanto, a geração de que ele fala está em todo lugar.


'Faltam clareza e transparência na comunicação da geração Y'

O acúmulo de conhecimento, sem construção, também leva à falta de assertividade. Que por sua vez causa uma capacidade capenga de comunicação.

- Faltam clareza e transparência na comunicação da geração Y - diz Heloísa. - A vida dependente da tela do computador leva a isso.

Ela diz que num concurso para trainee em empresas privadas, de seis mil candidatos saem cem, se tanto, para o processo de seleção. E aí o talento individual faz mais diferença.

Para Maristela Memere Riski, assessora pedagógica do Colégio Logosófico, em Botafogo, é preciso lembrar que a juventude, em todas as épocas, sempre foi criticada.

- Outro dia, num congresso, li para os professores algumas palavras, dizendo que a juventude é irascível, não respeita a autoridade, não tem medida... Perguntei-lhes se achavam a frase atual, e eles concordaram. Mas é de Aristóteles, de 300 anos antes de Cristo - comenta. - Isto posto, a questão da cópia é um fato. Os pais chegam nos dizendo que os filhos nem lêem as coisas direito, só copiam e colam, copiam e colam.

Bauerlein citou num chat recente algumas razões por que a geração Y parece perdida: 1) Alienação. "Não é que eles não estejam interessados na realidade, é que eles estão totalmente separados dela. Só querem saber de realidades imediatistas". 2) Falta de leitura. "Nenhuma outra geração se gabou disso como a atual". 3) Incapacidade de soletrar. "A falta de maiúsculas e os códigos de escrita para mensagens instantâneas dominam os textos online". 4) Os jovens são ridicularizados pelos pares por pensarem de forma original. 5) Excesso de games, que acaba prejudicando a vida letiva. 6) Incapacidade de memorizar a informação. "Para quem tem 40 anos e freqüentou bibliotecas na juventude, a internet sem dúvida é um manancial de informação. Não para o jovem de hoje, que usa a internet como um sistema de entrega, recebendo a informação e passando adiante". 7) Os professores não dizem aos jovens que eles são burros. E os pais não brecam as mensagens instantâneas de madrugada.

Para professora, orientação é que norteia resultados.

Nem todo mundo acha que copiar informações representa um problema em si. Tudo depende da orientação que é dada. Essa é a opinião da professora de História Dalva Sartini, supervisora pedagógica do Colégio Liessin.

- A intenção do professor é que vai nortear o resultado de uma pesquisa - diz Dalva. - Ele precisa saber o que pedir e orientar corretamente o aluno. O que o professor deseja? Apenas uma coleta de informação para embasar determinado assunto ou fazer um trabalho em grupo? Nesse contexto, a cópia sempre existiu, inclusive antes da internet. Agora, se deseja uma interpretação, uma inferência sobre o que se pesquisou, deve pedir que o aluno elabore.

Dalva diz que a cópia é a primeira coisa a fazer em qualquer pesquisa, mesmo em níveis de ensino mais altos. Trata-se do ponto de partida para a organização das informações para análise posterior.

- O que acontece muito no ensino médio é que o professor não pede uma elaboração do aluno, mas quer que isso apareça na mão dele - explica Dalva.

O problema, então, pode estar mais atrás, na própria formação dos professores. E isso sem falar no desestímulo para exercer a profissão, uma das mais sacrificadas e desvalorizadas no país.

Maristela Riski diz que, em seu colégio, os alunos têm suas pesquisas, feitas no laboratório de informática, devidamente registradas.

- E, embora haja cópia e colagem de informações, eles precisam elaborar, porque é norma que apresentem os resultados da pesquisa - explica. - É necessário mostrar o que foi processado. Além disso, nestes tempos em que a propriedade intelectual é constantemente tomada, buscamos mostrar que isso não é correto e ensinar valores éticos, debatendo-os.

Ela exige que os sites usados na pesquisa sejam devidamente citados, assim como a bibliografia tradicional. E também orienta os professores para fomentar os procedimentos certos durante a navegação.

- É preciso lembrar que informação ainda não é conhecimento - diz Maristela. - E isso tem de vir do colégio para a vida do jovem.

Professora acha que alunos ainda tem muito a ensinar aos mais velhos

Pessoalmente, ela não vê um declínio do raciocínio dos estudantes, e acha que, pelo contrário, eles podem ter muito a ensinar aos mais velhos, justamente por serem mais proficientes no uso da tecnologia. Também acredita que a internet estimula a vontade de escrever mais, emoticons, códigos e afins à parte. O que falta, mesmo, é a direção, o chamado knowledge management, ou gerenciamento da informação.

- Tentamos incentivar a ida à biblioteca, inclusive para os professores, e eles pedem aos alunos que pesquisem em livros também, não somente na rede.

A lida diária com a internet, que ocasiona a informação "empilhada" e efêmera, acaba prejudicando a geração Y no mercado de trabalho, explica Heloísa Yoshida.

- O conhecimento não é sempre um fator de contratação hoje, porque é possível capacitar alguém em alguns meses para determinada função - diz Heloísa. - Mas o comportamento é um fator fundamental, e justamente por estar conectada com o computador e não com a realidade a geração Y perde nesse quesito. E isso tem a ver com a comercialização e massificação do ensino. Os professores perderam a autoridade e isso se reflete no comportamento dos jovens. Faltam limites.

Hoje, explica, os trabalhos de escola são feitos às dez horas da noite da véspera da entrega: copia-se, cola-se, imprime-se e entrega-se.

- Cabe ao professor orientar, não aceitar isso e mandar refazer.

Dalva Sartini lembra que fazer uma pesquisa é fazer uma pergunta. E que, num primeiro momento, o professor tem que fomentar esta pergunta no espírito dos alunos, direcionando-os para as respostas e estimulando seu raciocínio. Com o passar do tempo, assim, eles aprenderão a fazer as próprias perguntas e encaminhar para as trilhas certas suas investigações.




Fonte André Machado- O Globo

" A criança é coisa séria"- Herbert de Souza


A criança é o princípio sem fim. O fim da criança é o princípio do fim. Quando uma sociedade deixa matar a criança é porque começou seu suicídio como sociedade. Quando não as ama é porque deixou de se reconhecer como humanidade.

Afinal, a criança é o que fui em mim e em meus filhos, enquanto eu em humanidade. Ela como princípio é a promessa de tudo. É mimha obra livre de mim.

Se não vejo na criança, uma criança, é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou o que lhe foi tirado. Mas essa que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem casa, cama e comida, essa que vive a solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós.




Herbert de Souza

terça-feira, 10 de agosto de 2010

" Leitura nas férias, melhora o desempenho escolar"

Embora os adultos geralmente agarrem a chance de atualizar sua leitura durante as férias, muitas crianças e adolescentes, especialmente em famílias de baixa renda, leem poucos livros durante as férias de verão- isso quando leem.


Porém, o preço de manter os livros fechados é alto demais. Diversos estudos documentam um "declínio de verão" nas habilidades de leitura assim que as escolas liberam os alunos na primavera, no Hemisfério Norte.


O declínio nas habilidades de leitura e ortografia são maiores entre alunos de baixa renda, que perdem o equivalente a dois meses de escola em cada verão, segundo a National Summer Learning Association, um grupo de apoio à educação. E a perda se acumula a cada ano.

Agora, uma nova pesquisa oferece uma solução surpreendentemente simples e barata para o declínio de leitura no verão. Num estudo de três anos, pesquisadores da Universidade do Tennessee, em Knoxville, descobriram que simplesmente dar acesso a livros às crianças de baixa renda nas feiras da primavera - e permitir que elas escolham livros que mais as interessem - surtiu um efeito significativo na lacuna de leitura do verão.

O estudo, financiado pelo Departamento Federal de Educação dos EUA, acompanhou os hábitos de leitura e as notas de mais de 1.300 alunos da Flórida, vindos de 17 escolas de baixa renda. A maioria das crianças era pobre o bastante para receber almoços escolares grátis ou com desconto.

Os pesquisadores queriam estudar se proporcionar livros às crianças durante as férias de verão afetaria seu desempenho ao longo dos anos. No início do estudo, 852 alunos da primeira e da segunda série, selecionados aleatoriamente, compareceram a uma feira escolar de livros na primavera, onde puderam escolher entre 600 títulos.

Era oferecida uma variedade de livros, desde aqueles sobre celebridades como Britney Spears e "The Rock", até histórias de personagens ficcionais como o corajoso criador de casos Junie B. Jones. As crianças também podiam escolher livros culturalmente relevantes, com personagens afro-americanos, assim como livros em espanhol.

As crianças escolheram 12 livros. Os pesquisadores também selecionaram aleatoriamente um grupo de controle de 478 crianças que não receberam nenhum livro. A essas crianças, ofereceram atividades livres e livros de quebra-cabeças.

As feiras e distribuições de livros continuaram por três verões, até que os participantes do estudo chegaram à quarta e quinta séries. Então, os pesquisadores compararam as notas de testes de leitura para os dois grupos.

As crianças que haviam recebido os livros grátis atingiram notas significativamente mais altas que aquelas com livros de atividades. O efeito, correspondente a 1/16 do desvio padrão em notas de testes, foi equivalente a uma criança fazer três anos de cursos de verão, segundo o relatório a ser publicado em setembro no jornal "Reading Psychology". A diferença nas notas foi duas vezes maior entre as crianças mais pobres do estudo.

As descobertas chegam num momento em que muitos distritos escolares consideram cortar os programas de verão para economizar verbas, de acordo com uma recente pesquisa pela Associação Americana de Administradores de Escolas. O estudo mostrou que oferecer livros gratuitamente, por um custo de US$50 por criança, é uma maneira muito mais econômica de estimular a leitura de verão, afirmou uma co-autora do estudo, Anne McGill-Franzen, professora e diretora do centro de leitura da Universidade do Tennessee, em Knoxville.

Uma das descobertas mais notáveis foi que as crianças aprimoraram sua leitura mesmo sem escolher os livros do currículo escolar, ou os clássicos normalmente indicados pelos professores como leitura de verão. Essa conclusão confirma outros estudos sugerindo que as crianças aprendem melhor quando podem escolher seus próprios livros.

Surpreendentemente, o livro mais popular durante o primeiro ano do estudo na Flórida foi uma biografia da cantora Britney Spears.

"O que isso significa para mim é que existe uma cultura e uma mídia jovens que transcendem o que achamos que as crianças deveriam ler", disse a Dra. McGill-Franzen. "Eu não acho que a maioria dessas crianças lia qualquer coisa durante o verão, mas a oportunidade de escolher seus próprios livros e discutir o que sabem sobre 'The Rock' ou Hannah Montana era algo motivador para eles".

Ellen Galinsky, presidente do Families and Work Institute e autora de um novo livro sobre o aprendizado infantil, "Mind in the Making", disse esperar que as descobertas estimulem pais e professores a deixar que as crianças escolham seu próprio material de leitura.

"Os interesses de uma criança são uma porta para a sala de leitura", afirmou Galinsky, acrescentando que seu próprio filho virava as costas aos livros durante a graduação. Como ele gostava de música, ela o encorajou a ler revistas de música ou livros sobre músicos. Seu filho acabou ganhando interesse na leitura e hoje possui um Ph.D.

"Se o seu filho não gosta de leitura, fazê-lo ler qualquer coisa é melhor do que nada", explicou ela.

Porém, dar às crianças a escolha dos livros que leem é uma mensagem a que muitos pais ainda resistem.

Recentemente, numa livraria, a Dra. McGill-Franzen disse ter testemunhado uma conversa entre algumas mães estimulando suas filhas, da quinta e sexta séries, a ler biografias de figuras históricas, quando as meninas queriam escolher livros sobre Hannah Montana - uma personagem interpretada pela estrela adolescente Miley Cyrus.

"Se esses livros os fizerem ler, isso gera ótimas repercussões no sentido de deixá-los mais inteligentes", disse a Dra. McGill-Franzen. "Professores e pais de classe média subestimam as preferências das crianças, mas eu acho que precisamos deixar de ser tão rígidos com suas escolhas em relação a livros".







Fonte: The New York Times

domingo, 8 de agosto de 2010

"Relaxamento na Forma Tai Chi"- Profª Maria Ângela Soci

Tai Chi tem uma ênfase especial no relaxamento elástico que cultiva a força interna. Nos dizem para "Relaxar, mas não para sermos moles", mas pode ser difícil de compreender o que isto significa sem primeiro sentir. Se praticarmos ouvindo o corpo, podemos ganhar uma compreensão maior do relaxamento sem amolecimento. Neste artigo, eu explorei algumas diferenças entre força rígida e força interna, com o objetivo de aumentar a compreensão do papel que o relaxamento tem no desenvolvimento da força interna.

No livro do Mestre Yang Zhenduo "Yang Style Taijiquan", ele fala sobre relaxamento com relação à "usar a mente ao invés da força", o número seis dos Dez Princípios: Na prática do Taijiquan, o corpo está relaxado e não há qualquer sinal de dureza ou força rígida nas veias ou juntas para obstruir o movimento do corpo.

As pessoas podem perguntar: Como se aumenta a força sem exercitar a força? De acordo a medicina tradicional Chinesa, no corpo humano há um sistema de caminhos, chamado jingluo (ou meridianos), que ligam as vísceras com as diferentes partes do corpo, tornando corpo humano um todo integrado. Se o jingluo não é obstruído, a energia vital irá circular no corpo de forma livre. Mas se o jingluo é preenchido com força bruta, a energia vital não é capaz de circular e conseqüentemente o corpo não se move com facilidade. Deve-se assim usar a mente ao invés da força de forma que a energia vital vai seguir a mente ou a consciência e circular através do corpo. Através da prática persistente será capaz de obter força interna genuína.

Nós estamos todos familiarizados com a força rígida mencionada acima. Mesmo que você não tenha certeza exata do que isto signifique, já teve alguma experiência desta força. Este é o tipo de força que se usa para, um embate de braço de ferro ou para carregar bagagens, ou algo pesado. A força rígida tem a natureza da madeira, nem ágil, nem fluída e aí está o porque das pessoas freqüentemente se machucarem quando usam este tipo de força. É o tipo de força que usamos quando nossos músculos se contraem subitamente e são mantidos flexionados por um período de tempo. É difícil para o sangue e o chi circularem quando este é o caso. Você já experimentou esta contração em alguma vez que teve que tirar sangue. Quando o hematologista pede para que você segure o punho fechado, o sangue não pode retornar ao seu coração e preenche as veias. O chi, também fica constrito aos meridianos quando o corpo está tenso.

Tensão muscular e força rígida estão relacionadas. Nós de tensão nos músculos são um tipo de força rígida, que opera de forma automática. Quando você massageia os ombros de alguém pode sentir quão duros os músculos estão, quando tencionados. Quando nós estamos tensos perdemos muita energia mantendo a tensão da musculatura. É como dirigir com o breque de mão acionado todo o tempo. Para fazer o carro andar você tem que fazer com que o motor aplique mais força porque o carro está lutando contra si próprio. Um carro com o breque de mão acionado está bloqueado e não responde de forma fluída. Ele se move aos trancos. É exatamente a mesma coisa com a tensão muscular. Quanto mais capazes formos de relaxar mais suaves nossos movimentos se tornam.

Uma vez que conseguirmos encontrar a sensação de relaxamento ela fica mais fácil de ser mantida.Entretanto no início pode ser tremendamente difícil permitir que a tensão se alivie. Muitos de nós estamos acostumados a forçar nossos corpos a trabalhar duro, a fazer mais do que pode. Neste mundo moderno se considera comumente uma virtude, levar nossos corpos além de seus limites aplicando força e resistência para que um trabalho seja realizado. Quando fazemos isso nos levamos a um estado de exaustão enquanto ignoramos os desconfortos físicos que surgem do stress e da tensão.

Um bloqueio que as pessoas encontram quando estão aprendendo a relaxar é que o conceito de relaxamento que aparece absolutamente: branco e preto. Ou estamos relaxados ou não. Na verdade pode ajudar bastante pensar sobre o relaxamento como um contínuo.


As sementes de seu relaxamento estão contidas dentro de sua tensão, assim como o símbolo yin-yang. Sementes não podem transformar-se em flores sem haver antes passado por todos os estágios de crescimento necessários.

Aprender a relaxar é como aprender a forma. Quando começamos a aprender a forma o fazemos aos poucos, parte a parte: primeiro o trabalho de pés e depois os braços. Recebemos muitas correções, cada uma parece às vezes desconectada da outra: joelhos desta forma, braços de outra forma. Nós então passamos meses e anos nos concentrando em miríades de detalhes na forma. E tudo começa a se unificar aos poucos. Finalmente aprendemos a mover os membros com a cintura. Aprendemos a unir os membros de maneira que as partes de cada movimentos se tornem parte de uma aplicação única. Mais tarde aprendemos como todas as aplicações fluem juntas para que possamos dar forma a Forma. Finalmente, mesmo a forma retrocede e há apenas Tai Chi, o eterno ciclo de yin e yang. Praticantes de alto nível falam que quando se relaxam completamente dentro da forma, já não há mais a experiência de sentir-se separados do universo, durante o tempo de sua prática.

A maioria de nós, entretanto, ainda tem alguma fragmentação e tensão em nossas formas. É a presença desta força rígida que nos impede de experimentar a elasticidade da energia vital e da força interna. Mas a semente da forma interna está aí e é justamente no relaxamento que ela cresce. Faz sentido aprender a sensação do todo relaxado da mesma maneira que você aprende a forma: ou seja, em partes. É importante lembrar quando estiver praticando que num momento você vai ter a necessidade de juntar todas as porções relaxadas do corpo de maneira que você possa ser ¨uma unidade¨, toda conectada, como o Mestre Yang Jun nos aconselha. Não apenas o corpo estará unificado, mas o relaxamento mesmo se torna um estado de ser unificado.

Existem muitas oportunidades para melhorar a sua forma e o relaxamento, simplesmente se sintonizando e realmente ouvindo o seu corpo. Seu corpo irá lhe dizer onde a tensão está. Ele até vai dizer como soltar totalmente para que você possa relaxar.

Quando começamos a prática do Tai Chi notamos todo tipo de novas dores. Um estudante novo pode dizer, ¨Eu pensei que o Tai Chi fosse me ajudar a relaxar e sentir menos stress, agora estou mais estressado e meus ombros estão doendo¨. É que nós não estamos muito conscientes da tensão que carregamos. Existem lugares em nossos corpos que estiveram gritando tão alto pedindo relaxamento que nós aprendemos a diminuir o volume da autopreservação. Freqüentemente a experiência inicial de desconforto quando temos que manter as posturas surge do esforço em prestar atenção ao corpo em primeiro lugar, por um longo tempo.

Ouvir o corpo é parte do processo de conhecer-se a si mesmo e isso é parte do processo de tornar-se um artista marcial competente. O Mestre Yang Jun diz: ¨Pratique a forma e conheça a si mesmo. Pratique Tue Shou para conhecer seu oponente¨. Nós aprendemos a ouvir nossos corpos para relaxar e acessar o máximo de nossas capacidades. Quando estamos relaxados, nossos movimentos tornam-se suaves e sem esforço.

Seu corpo irá realmente ensiná-lo a corrigir e a conseguir um alinhamento apropriado na medida em que aprende a relaxar. Quando você sente dores nas juntas e músculos isto significa que seu corpo não está alinhado de forma apropriada e não está relaxado o suficiente. Nós aprendemos a deixar que a força nos guie até que ela retroceda. Finalmente, sua sensação corporal irá melhorar e você será capaz de ajustar a sua forma através da base da sensação correta.

Há uma boa razão porque cada postura é tão precisamente delineada. Cada posição é bio-mecanicamente desenhada, para permitir que o fluxo mais natural e correto do chi ocorra em cada uma das aplicações. Isto significa que quanto mais perto do padrão estejam nossas posições, mais conscientes do "correto" e "não correto" nos tornamos porque podemos ouvir nossa sensação interna de aumento ou bloqueio do fluxo de chi. Quanto mais relaxados estamos, mais as forma nos ensinam sobre sua natureza e sobre nossa própria natureza. Nós aprendemos que somos capazes de ser e fazer. A forma é um conteúdo e quanto mais relaxamos, mais ela nos suporta e nos abraça. Nós acabamos por sentir a forma tornando-se algo que fazemos, sem separação entre o eu, a intenção e a ação. Mente, corpo e espírito unidos.

Nós temos que tomar cuidado, entretanto de não relaxar tão completamente que colapsamos no chão. Este tipo de relaxamento sem forma pode ser bom para o sono, mas no Tai Chi, nós queremos que nosso relaxamento seja elástico e flexível, capaz de reagir depois que alguma força foi aplicada. Se pudermos manter a idéia da forma na mente, então isto vai ajudar o corpo a manter sua estrutura externa enquanto mantemos o relaxamento interno. Isto ajuda a evitar o derrubar dos dedos e membros que surge quando se está relaxado em demasia. Está é a fraqueza ou o adormecimento que devemos evitar. O erro aqui é procurar um relaxamento sem a atenção apropriada na forma. Nós devemos prestar atenção às particularidades da estrutura de maneira a relaxar dentro da forma e não colapsar de maneira derrubada.

É verdade que chegar a um estado de consciência equilibrado e unificado pode levar muito tempo. Ainda assim: lembre-se de que podemos começar com algo pequeno e possível de ser realizado. É bastante difícil começar com o processo de relaxamento com algo que foi tenso por décadas, assim eu sugiro um começo menor. A maioria de nós tem carregado tensões por anos. É um desconforto familiar como uma bolsa pesada ou um cinto apertado. Nós já não notamos mais. Assim eu sugiro que você não comece tentando relaxar uma parte que tem estado tensa por anos. A tensão pode estar tão arraigada que só haverá frustração na tentativa e isto vai criar ainda mais tensão.

No Estilo Yang de Tai Chi nós começamos com a forma, a forma das coisas, e aprendemos como relaxar no interior de forma que gradualmente o interior torna-se um suporte para o exterior e vice versa. Quanto mais relaxamos o corpo, mais o chi ou a energia vital vai circular naturalmente, expandindo e preenchendo o seu corpo. O chi vai começar a circular mais suavemente até suas extremidades, fortalecendo-as e nos permitindo desenvolver a energia interna.

O que é a energia interna? Todos temos uma certa capacidade de força interna, mas ela é freqüentemente impedida por estar sendo limitada ou bloqueada pelas tensões musculares. Na medida em que relaxamos mais e mais, a energia que liberamos mantendo a tensão irá nos preencher por dentro. A energia resultante tem uma qualidade flutuante e expansiva. Este é um aspecto da energia interna. Cultivando o chi pós-natal através da prática regular da forma podemos também aumentar a força interna. Quanto mais nós relaxamos durante a forma, melhor nossos corpos vão ser capazes de incorporar o chi fresco pós-natal do exterior, seja através da comida, do sono ou da respiração.

A força interna também pode ser conectada ao ar de um pneu. Imagine que o ar é o chi e que o pneu é o corpo. Quando estamos tensos é como se o pneu estivesse cheio de pedras. Isto não permite o giro da roda e interfere em suas funções. Quando esta tensão de pedra é dissolvida, o ar circula livremente e mantém a força no pneu que o suporta desde o interior. A superfície do pneu é suave de maneira que quando ele está desinflado você pode pressioná-lo co suas próprias mãos e ele cede. Mas quando está preenchido com ar, o pneu é bastante duro. É a pressão do ar interno que cria a dureza, mas o ar em si mesmo é suave e sem forma, expandindo para preencher seu envoltório. Durante a prática do Tue Shou, alguém usando este tipo de energia irá sentir dureza sem sentir rigidez ou irregularidade.

A força intera genuína significa que o chi circula livremente, guiado pela mente e como o ar ela pode preencher o vazio quase que instantaneamente. Isto permite uma resposta muito rápida quando estamos relaxados porque há espaço para que a energia se mova de forma desimpedida. Mas quando estamos vazios de tensão, isto não implica em vacuidade porque a vacuidade resultante se preenche com a energia interna. Aí está o porque o relaxamento nos permite chegar antes quando atacamos depois - por que quando estamos aderidos ao nosso oponente nossa energia já está lá, mais rápida do que nosso pensamento consciente.

Na medida em que praticamos mais, descobrimos que relaxar uma parte de nosso corpo pode produzir um efeito dominó, relaxando outras partes em troca. Quando uma parte relaxa ela libera o chi que estava limitado ali e o resultado como ondas de choque se irradia para fora até que atinge outras áreas de tensão. Dependendo da natureza da tensão as ondas ou ricocheteiam nas áreas que não estão prontas ainda para relaxar ou chacoalham outras áreas de tensão permitindo que o relaxamento ocorra. Nós queremos ser muito suaves por dentro de maneira que a energia que é liberada não prejudique nossos órgãos internos. Esta é uma razão para praticar devagar e ter um melhoramento gradual.

Eu espero que você ache que essas idéias possam auxiliá-lo. Apesar de haver pedido para você no início para prestar atenção às pequenas áreas de tensão, é importante lembrar que finalmente nós devemos dispensar focos limitados em elementos individuais de tensão. Nós estamos buscando por uma sensação de relaxamento unificada que dispensa toda distinção com o objetivo de que a ¨energia vital possa circular por todo o corpo sem obstrução.

Desde a parte nós buscamos o todo. Compreendendo as particularidades de nossa tensão podemos chegar a uma compreensão equilibrada de relaxamento e força interna que retém a forma sem dissolução e a elasticidade sem amolecimento.



Extraído da Revista de Tai Chi Chuan - nº 16

Escrito por Serena Newhall e traduzido pela Profª Maria Ângela Soci

"As agressões em família"

Nunca é demais conversarmos sobre agressão, seja ela de que tipo for. E ninguém melhor para expor esse assunto do que o psiquiatra Contardo Calligaris. Aqui vem algumas de suas considerações.

Uma recente pesquisa Datafolha (Folha, 26/7) mostra que, no Brasil, 69% das mães e 44% dos pais admitem ter batido nos filhos.
Parêntese. Os pais são tão violentos quanto as mães: simplesmente, eles passam menos tempo em casa e lidam menos com o "adestramento" dos filhos.
A pesquisa constata também que 72% dos adultos sofreram castigos físicos quando crianças. Como se explica, então, o fato de que 54% dos brasileiros se declaram contrários ao projeto de lei que proíbe os castigos físicos em crianças? Há várias hipóteses possíveis.
1) Talvez quem apanhou quando criança não queira perder o direito de se vingar em cima dos filhos.
2) Talvez não aceitemos a ideia de que os nossos pais tinham sobre nós uma autoridade maior do que a que nós temos ou teremos sobre nossos filhos.
3) Na mesma linha, talvez estejamos dispostos a apanhar dos superiores sob a condição de sermos autorizados a bater nos subalternos.

Nota: aceitar apanhar dos mais poderosos para poder bater nos mais fracos é a caraterística que resume a personalidade burocrático-autoritária do funcionário fascista.

4) A autoridade, dizem alguns com razão, sempre tem um pé na coação e recorre à força quando seu prestígio não for suficiente para ela se impor. Hoje, a autoridade simbólica dos adultos é cada vez menor. É provável que os próprios adultos sejam responsáveis por isso (principalmente, por eles se comportarem cada vez mais como crianças); tanto faz, o que importa é que o prestígio dos adultos não lhes garante mais respeito e obediência. Portanto, a palavra aos tabefes.

É um erro: o castigo físico acaba com a autoridade de quem castiga, pois revela que seu argumento é apenas a força. A reação mais sensata da criança será: tente de novo quando eu estiver com 15 anos e 1,80 m de altura.

Esses e outros argumentos a favor da palmatória não encontram minha simpatia. Até porque verifico que os rastos desses castigos não são bonitos. Mesmo um simples tapa é facilmente traumático tanto para o pai que bateu como para o filho: ele paira na memória de ambos como uma traição amorosa que não pode ser falada por ser demasiado humilhante (para os dois). Há pais violentos que passam a vida na culpa, e há crianças cuja vida erótica adulta será organizada pela tentativa de encontrar algum sinal de amor no sadismo dos pais.

Apesar disso, se tivesse sido consultado na pesquisa, provavelmente eu teria me declarado contra a nova lei, por duas razões.

A primeira (e menos relevante) é que existem violências contra crianças piores do que a violência física, e receio que uma lei reprimindo o castigo físico nos leve a pensar que, por assim dizer, "o que não bate engorda". Infelizmente, não é preciso bater para trucidar uma criança.

A segunda razão (e mais relevante) é que a nova lei não surge num contexto em que os pais teriam poder absoluto sobre o corpo dos filhos. Mesmo sem a nova lei, o professor que visse sinais de violência no corpo de um dos alunos avisaria à polícia e à autoridade judiciária. O mesmo valeria para o pediatra ou para o psicoterapeuta. Inversamente, um pai cujo filho fosse batido na escola processaria o professor e a instituição. Também, com um pouco de sorte, uma criança batida pode denunciar o adulto que a abusa.

Pergunta: para que servem leis que pouco mudam o quadro legal e só explicitam e particularizam proibições que já vigem de modo geral?

Essas leis me parecem ter sobretudo a intenção de afirmar, demonstrar e estender o poder do Estado na vida dos cidadãos.

Uma coisa aprendi com Michel Foucault: o poder moderno é raramente extravagante em suas exigências. Como ele não tem conteúdo específico, mas gosta apenas de se expandir, ele escolhe o caminho mais fácil, conquistando a adesão "espontânea" de seus sujeitos. Como? Simples: operando "obviamente" "pelo bem dos cidadãos" -no caso, pelo bem das crianças.

Resumindo:

1) sou absolutamente contra qualquer castigo físico; 2) sou também contra a extensão do poder do Estado no campo da vida privada, por temperamento anárquico e porque sou convencido que, neste campo, as famílias erram muito, mas o Estado, quase sempre, erra mais.

Fonte:Datafolha de SP.