segunda-feira, 17 de maio de 2010

A homossexualidade nos dias atuais

Trabalho em escola há trinta anos e nunca havia tratado de um assunto tão polêmico como a homossexualidade. Hoje quando percorro o ambiente escolar, mais os espaços coletivos, onde os jovens se encontram para um bate papo, percebo como a juventude trata o assunto. Não é fácil se dizer homossexual, na verdade exige amadurecimento e firmeza naquilo que escolhemos ser.

Uma vez um jovem chegou até mim, me pedindo ajuda de como ele deveria falar para os pais a sua orientação sexual.

Disse-lhe de forma firme e categórica: Em uma longa conversa. Não existe outra forma que o diálogo.

O rapaz devolveu com um sorriso, como quem me dissesse isso não resolve. Daí percebi que ele estava muito enrolado e comprometido com o que dizia. Na verdade ele me dizia, eu já vivo a minha opção sexual, não estou falando que não sei o que quero, estou um passo além do que você está prevendo.

Então conclui... E disse-lhe: - Você já está um passo a mais do que a maioria, que nem ao menos sabem o que querem. E tem mais, você não está só, tem um montão de pessoas iguais a você.

A vida sexual na verdade começa na adolescência e muitos confundem curiosidade com orientação sexual. A sexualidade é descoberta nesse percurso e tem gente que descobre que sente tesão por pessoas do sexo oposto e tem gente que descobre que sente desejo por pessoas do mesmo sexo. Não existe resposta ainda por que é que a maioria das pessoas é de um jeito ou de outro. E tem mais... Tudo que é diferente incomoda muito. Não importa o que seja, mas o incomodo aparece de forma gritante, como se fosse uma sentença! Veja bem, ninguém se apresenta dizendo: sou médico... Sou gay... Mas, a sociedade lhe trata diferente quando você se coloca na contra mão. O rótulo só será menor se você souber lidar de forma amadurecida sobre o assunto.

A melhor coisa nesse momento é você entender o que se passa com o seu corpo. Entender as suas reações e se tudo não passa de uma insegurança. Se você se der conta que é gay, é bom saber o que enfrentará e procure sempre conversar com pessoas que possam te ajudar.

Bem... Então qual é o dilema?

Existe por parte de nós educadores a tendência de tratarmos desse assunto de forma ingênua e até com uma postura de que tudo sabemos. E na verdade nada nos garante essa sabedoria, por muitos motivos, mas um deles me parece primordial, a falta de vivência. Quando não vivemos o assunto, nos parece fácil falar sobre o mesmo. Quando não nos envolvemos com a realidade, tudo nos parece fácil. E como ajudar numa hora dessas? Parece-me que a melhor saída é sermos um bom ouvinte. Aconselhar até podemos, mas não devemos passar daí. Afinal, todos têm direito a privacidade. Para se garantir um bom diálogo é necessário deixar de lado os julgamentos, as críticas e saber ouvir sem preconceitos. É necessário ter a clareza também que uma vez feita a sua opção de ser gay, nada irá influenciá-lo a mudar.

A homossexualidade é algo discutido há milênios. Já sabemos que não é doença, a homossexualidade é um dos caminhos possíveis que o desejo sexual pode percorrer. Dito dessa forma parece até que o problema torna-se menor. Infelizmente, isso não diminui a angústia de quem se percebe gay. Quando você percebe que não viverá como a maioria, que não desfrutará da mesma liberdade, a coisa pega. Tudo começa com a família que logo passa a te olhar meio torto... Já acompanhei casos em que a família se declara que suportariam muitas coisas, menos o filho ser homossexual.

A maior preocupação dos jovens hoje é como manter um relacionamento gay de forma saudável e duradoura. Parece-nos que essa preocupação só ocorre com os heterossexuais, mas não é verdade.

A maior insegurança é não virar notícia, é não ser um caso a mais. E para que isso não aconteça, é necessário se dar conta que a discrição faz parte em qualquer assunto amoroso, pois vale para qualquer sexo. Ser distinto, discreto, amável, respeitoso, são ingredientes que qualquer par se rende a um romance. Não é necessário sair espalhando aos quatro ventos que sou homossexual, isso não ajuda em nada. A melhor maneira de se viver a sua sexualidade é sendo respeitoso com todos.

Ser homossexual é apenas uma maneira diferente de ser. As diferenças são importantes e devem ser respeitadas em qualquer lugar onde esteja. E a sua intimidade só diz respeito a você.

A melhor forma de olhar o assunto é você se colocar no lugar dele. Afinal, como seríamos se nos descobrisse sendo parte desse universo? O que pensas a respeito?

Por isso e nada, além disso, nos surpreende o que o outro pensa e sim o que pensamos a respeito. E educar não depende só de nós educadores, mas sim de um contexto maior, que envolve a família e a sociedade.

Por: Natalícia Alfradique

Um comentário:

Neli disse...

Natalícia,
Obrigada! Muito esclarecedor o assunto abordado neste artigo. Sem dúvidas que a melhor forma é colocar-se no lugar do outro, sem julgamentos ou criticas. Afinal, conviver com as diferenças é um passo para aceitação.
Um forte abraço,