quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

“ Crianças Resilientes”

Crianças se sentem desorientadas, perdidas numa época tão rica de estímulos, mas tão pobre em ética, princípios e valores. Entretanto, desses grupos, onde o que prepondera é o sofrimento, emergem crianças altamente resilientes. São crianças que confrontaram adversidades, que transformaram perdas em desafios, que lutaram e venceram e que se curaram sozinhas. Parecem ser crianças que quanto mais feridas, com mais força se afirmam no mundo e crescem como adultos resilientes.

Resiliência é um conceito que foi emprestado da Física, onde é entendida como a propriedade que têm os metais de resistir a golpes e de recuperar sua estrutura interna.

Do ponto de vista das Ciências Humanas, resiliência é a capacidade universal de superar as adversidades da vida e de ser fortalecido por elas. É parte do processo do crescimento e pode ser promovida desde o nascimento.

Os estudos sobre resiliência datam das últimas décadas, porém a idéia de resiliência é quase tão antiga quanto o mundo. A luta pela sobrevivência entre os pobres e oprimidos, em todos os tempos e lugares, gerou certa forma de resiliência. O fenômeno da resiliência evoca os velhos mitos de heróis invulneráveis. É um fenômeno encontrado na mitologia, na história, na arte, na religião. São exemplos de resiliência, entre muitos outros, a vida e a obra de Jean Piaget, Máximo Gorki, Aleijadinho. Outro exemplo notável pode ser visto no diário de Anne Frank. Uma jovem, aos 12 anos, condenada a viver escondida com sua família, para tentar escapar à perseguição nazista, escreveu um diário sob a forma de cartas dirigidas a uma amiga fictícia, por quem se sentia incondicionalmente aceita..."Não penso na angústia, mas penso na beleza de ainda viver".

Não é necessário voltar ao passado ou citar celebridades ou observar realidades tão distantes para verificar exemplos de resiliência. Basta olhar ao nosso redor para enxergar um resiliente. É possível ver, em favelas, algumas crianças que vivem em condições miseráveis, e mesmo assim conseguem se sobressair nos estudos. Há pessoas que nascem com deficiências físicas importantes, a ponto de ter a escolaridade prejudicada e que conseguem se destacar profissionalmente. Há aqueles que ficam por muito tempo desempregados e depois se sobressaem nos seus próprios negócios. Trata-se de algumas, entre várias situações de resiliência que podem ser assinaladas.

Os fatores de risco, expressos em termos de prejuízos, podem paradoxalmente criar no indivíduo uma espécie de escudo - suas resiliências. As pessoas resilientes transformam os fatores de risco em desafios, os quais passam a ser confrontados e podem ser superados.

Atualmente a psicologia do desenvolvimento está muito interessada em identificar os fatores que contribuem para reforçar a capacidade de resiliência. Sabe-se que ela não é uma capacidade fixa, mas que pode variar com o tempo e com as circunstâncias.

Podem ser descritas várias características das pessoas que possuem maior capacidade para resiliência: Inteligência, capacidade de reflexão, possibilidade de independência, capacidade de relacionamento, capacidade de iniciativa, humor, criatividade, noção interna de ética, dentre outras. Mas, para que uma criança cresça e se desenvolva como resiliente, ela precisa ter pais que sejam modelos de identidade valorizados e íntegros.

Sentir-se incondicionalmente amada, por pais respeitáveis, garante para a criança a confiança em si mesmo, a capacidade para auto-apreciação, a capacidade para controle da impulsividade, a capacidade de empatia, o sentido de coerência, o significado e a finalidade quanto à própria vida.

Cabe aos pais, cuidarem de sua da própria integridade física e psicológica, pois, assim, contribuirão para que o filho se sinta seguro e confiante no ambiente familiar e, por conseqüência, confiante na bondade das pessoas em geral e esperançoso na bondade do destino.

Sentir-se incondicionalmente aceito por pais valorizados traz um incentivo de valor inestimável para o desenvolvimento da criança e dá forças para que ela enfrente dificuldades e supere adversidades.

Nós todos almejamos um mundo "cor-de-rosa" para nossos filhos e ficamos penalizados quando precisamos ajudá-los a suportar dores, enfrentar frustrações e a curar feridas. O mundo "cor-de-rosa" não existe, as adversidades por certo virão. Precisamos criar crianças resilientes, que aprendam com seus erros, fracassos e decepções e que se tornem cada vez mais resistentes, mais fortes e mais crentes em vitórias.


 

Fonte: UOL.com.br Artigo de Ceres Araujo

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