segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Tempo de delicadeza



Quando eu era criança amava brincar na rua. Brinquei muito de pique esconde. Brinquei de roda, de soltar pipa, de comidinha e muitas outras coisas. Naquela época já havia certa preocupação em brincar na rua, mas com certeza ainda era tranqüilo. Eu me lembro do primeiro fogãozinho que ganhei. Era lindo! Brinquei tanto de fazer comidinha, que até hoje à culinária me fascina.
Mas houve um tempo em que tive que lutar muito. Nasci e tive que batalhar para viver. Lutei tanto que acredito que hoje a minha luta é pequena, os maiores desafios eu superei até um ano de vida.
Fui privilegiada, tive minhas irmãs ao meu lado o tempo todo. Para elas eu era uma boneca, afinal eu era tão pequena que cabia na palma da mão de minha irmã.
Fui batizada após ter alcançado o peso ideal, isso já com um ano e foi quando tirei a minha primeira foto. Na verdade esse dia foi celebrado em dobro, esse foi o meu real nascimento. A felicidade era total. Eu que nasci e fui colocada em uma caixa de sapato, cheia de algodão e com uma garrafa de água quente do lado para me aquecer, logo, logo, esperneei por um espaço maior.
Nasci em um dia onde se celebra o nascimento do menino Jesus, o Mestre dos mestres, imagina compartilhar essa data com os amigos e os inúmeros parentes. Era uma grande festa! A casa ficava quase que intransitável, de tanta gente se abraçando, pois era um momento onde todos podiam se reencontrar depois de um longo tempo sem se ver.
Falar de infância não é algo tão fácil assim. O esforço de ser fiel a um tempo que ficou para trás não é fácil.
O que me faz saber que estou sendo fiel ao que vivi, são as lembranças que ora me vêem a mente e os relatos amorosos que minha irmã conta com muito carinho e até com muita vaidade.
Tenho sonhado com bons momentos que vivi. Os amigos de infância são os amigos de rua também. Não havia distinção. Na verdade amigo era amigo. Não importava se era negro, pobre, rico, se gostava de batata frita ou não, eles eram presenças constantes.
O tempo passa e o que trazemos dessa época com certeza se traduz na pessoa que sou hoje. Acredito que amor de mãe acontece muito antes do nascimento e perdura para sempre com gestos e atitudes.
A responsabilidade que dividimos com a família, com os jovens e adultos que convivo diariamente, nos ajudam a reviver essas lembranças, que querendo ou não fazem parte de sua história de vida e que é única.
E eu sou única, na medida em que fiz as minhas escolhas e hoje traço os caminhos que percorri. Tenho família e junto dela passo os melhores momentos. Ainda não sou avó, mas acredito que em breve serei e com certeza começo um novo ciclo. Ciclo este que se renova a cada instante, pois a vida é um eterno desafio, onde não deve faltar: o amor, gestos delicados, dia de sol, natal, aniversários e chocolate! Ah! E o meu Amor...

Um comentário:

Vanessa disse...

Que texto lindo, Nata! Emocionante!! Parabéns!