sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O paradoxo do nosso tempo

O paradoxo do nosso tempo na história é que temos edifícios mais altos, mas pavios mais curtos; auto-estradas mais largas, mas pontos de vista mais estreitos; gastamos mais, mas temos menos; compramos mais, mas desfrutamos cada vez menos; temos casas maiores e famílias menores; mais conveniências, mas menos tempo; temos mais graus académicos, mas menos senso; mais conhecimento e menos poder de julgamento; mais proficiência, porém mais problemas; mais medicina, mas menos saúde.

Bebemos demais, fumamos demais, gastamos de forma perdulária, rimos de menos, dirigimos rápido demais, nos irritamos muito facilmente, ficamos acordados até tarde, acordamos cansados demais, raramente paramos para ler um livro, ficamos tempo demais diante da TV e raramente oramos. Multiplicamos nossas posses, mas reduzimos nossos valores.

Falamos demais, amamos raramente e odiamos com muita freqüência; aprendemos como ganhar a vida, mas não vivemos essa vida; adicionamos anos à extensão de nossas vidas, mas não vida à extensão de nossos anos; já fomos à Lua e dela voltamos, mas temos dificuldade em atravessar a rua e nos encontrarmos com o nosso vizinho; conquistamos o espaço exterior, mas não nosso espaço interior; fizemos coisas maiores, mas não coisas menores; limpamos o ar, mas poluímos a alma; dividimos o átomo, mas não nossos preconceitos.

Escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos; aprendemos a correr contra o tempo, mas não a esperar com paciência; temos maiores rendimentos, mas menor padrão moral; temos mais comida, mas menos apaziguamento; construímos mais computadores para armazenar mais informações para produzir mais cópias do que nunca, mas temos menos comunicação; tivemos avanços na quantidade, mas não na qualidade; estes são tempos de refeições rápidas e digestão lenta; de homens altos e de carácter baixo; lucros expressivos, mas relacionamentos rasos; estes são tempos em que se almeja a paz mundial, mas perdura a guerra nos lares; temos mais lazer, mas menos diversão; maior variedade de comida, mas menos nutrição; são dias de duas fontes de renda, mas de mais divórcios; de residências mais belas, mas lares quebrados.

São dias de viagens rápidas, fraldas descartáveis, moralidade também descartável, ficar por uma só noite, corpos acima do peso, e pílulas que fazem de tudo: alegrar, aquietar, matar. É um tempo em que há muito na vitrina e nada no estoque.

Fonte:César Romão em Estórias e Metáforas

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